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sábado, 29 de novembro de 2014

O RENASCIMENTO DA DIREITA


Desde os protestos de junho de 2013, que observo o comportamento da elite brasileira, ou melhor, da classe média e classe média alta, além de tantos outros grupos, sujeitos e personalidades da sociedade, que criticam o governo atual, com intenção de mudança, de moralização, de renovação da política, ou seja, um renascimento ideológico. E, entretanto, desconfiava e agora desconfio, mais ainda, das reais intenções de uma parcela considerável que alardeia uma transformação na política nacional, tendo em vista as recentes manifestações no país.

O cenário das eleições de 2014 e, principalmente, o pós eleição, dada a vitória apertada da presidenta Dilma Rousseff sobre o candidato Aécio Neves, reforçou, portanto, a minha visão que a direita ressurgiu no cenário nacional, com muito fervor. Esse renascimento da direita está com força e sede, acompanhado, ainda, de uma imensurável intolerância, de uma moral capenga e de um nacionalismo de ódio e não de amor pela pátria, pelos brasileiros, pelo povo, pela união, sem distinção de cor, origem e condição social. É até parecido com a divisão de classes deflagrada por Karl Max, o idealizador do comunismo.

Quando aos protestos de junho do ano passado, os quais jovens e adultos foram as ruas com importantes reivindicações, excetuando-se o vandalismo de poucos, diante do cenário de descrédito da política e governos, alguns sujeitos e até mesmo a imprensa, criticaram e classificaram os participantes de arruaceiros, vândalos e até consideraram o movimento como ilegítimo, por não ter objetivos claros, ou seja, ela intencionalmente direcionou o seu público alvo os pontos negativos e esqueceram dos pontos positivos dos movimentos. Como se para protestar se fizesse necessário um curso preparatório, com bom comportamento para agradar o ego do outrem e não perturbar o sossego alheio e nem ordem pública. Naquele momento, observei que muitas vezes a imprensa e alguns sujeitos enfatizaram apenas os atos de vandalismo ao invés de aprofundar a discussão política e compreender o movimento, o direito do povo protestar, como ato político e necessário numa democracia em plena (re) construção.
Diante desse cenário, considero que a maioria dos revoltados com os protestos de junho são de fato, os maiores intolerantes desta pós eleição presidencial, pelo perfil do público acompanhado nas redes sociais e na mídia, até mesmo na nossa cidade, na nossa rua e ambiente de trabalho e, além disso, no próprio Congresso Nacional na atualidade e mesmo naquela época, visto que alguns parlamentares criticaram os atos reivindicatórios de 2013, com palavras de defesa da integridade moral do parlamento, que não se podia ceder, nem se amedrontar com o povo nas ruas.

Nesse sentido, os atos de protestos pós eleição são totalmente, na sua essência e intenção, diferentes dos protestos de junho de 2013, pois enquanto estes tiverem os jovens e adultos nas ruas com objetivos diversos, mas dignos, os protestos com pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff são de cunho ideologicamente desrespeitoso a democracia, digo até pior que os atos de vandalismo, pois os revoltados da extrema direita querem uma ditadura em substituição a um governo eleito pelo povo, querem, de fato, a todo custo e por meio do poder derrubar um governo democrático, reeleito pela maioria dos eleitores do país e com o direito de governar para todos e não para satisfazer uma elite historicamente agraciada com a coisa pública, com as benesses do Estado patriarcal.

Afinal, somos todos brasileiros ou não? Parece, infelizmente, que não, pois alguns defendem a divisão do país em Norte e Sul, separando o norte e nordeste do restante do país, pois, na visão deles, enquanto o sudeste produz o nordeste recebe o bolsa família. Um discurso de apartheid, de ódio e intolerância, para com as maiores vítimas de todos os tempos na terrae brasilis, os pobres e desfavorecidos pelas condições impostas desde o Brasil colônia. Não tivemos aqui uma colônia de desenvolvimento como aconteceu nos Estados Unidos da América, mas de exploração, de usurpação dos bens e da riqueza e desde aquela época o povo mantém no poder e nas benesses do Estado uma elite, que começou com o pau brasil, depois o ouro, passou pelo café, pelos canaviais, pelos engenhos dos senhores e coronéis do nordeste brasileiro. Então, temos uma elite, que continua a votar nos candidatos tradicionais, como também o povo na sua maioria votou nesta eleição de 2014, para perpetuar o poder de uma parcela historicamente apregoada a máquina pública, visto que teremos a partir de 2015 o Congresso Nacional mais tradicional desde o golpe militar de 1964.

As coincidências com os tempos de chumbo são muitas, na minha opinião. Da mesma forma que em 1964 a elite e classe média foram as ruas contra atos de corrupção, com a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, promovida com apoio da igreja católica, dos empresários e até com inventivo financeiro dos Estados Unidos. O discurso intolerante e moralizante de 1964 é semelhante aos protestos contra o governo federal atual, ou seja, contra a corrupção, mas, vejo na sua essência a deflagração da mesma moral “capenga” daquela época de sangue e chumbo, pois durante o governo militar a corrupção não só aumentou, mas foi encoberta pela falta de liberdade de expressão da imprensa e do povo.

Por outro lado, não fecho os olhos diante da corrupção no atual governo, ou melhor, na política nacional, mas não podemos incriminar sem os fatos esclarecidos, até porque a investigação reflete em muitas siglas partidárias e políticos. Que a justiça, de fato, faça justiça, e não arremedo e que o Congresso Nacional não nos ofereça mais uma pizza nas comissões parlamentares de investigação.

Ademais não podemos aceitar o crescimento de uma intolerância e discurso de classe que marginaliza uma parcela da população e vangloria outra. Acompanhamos na imprensa e redes sociais um discurso auto declaratório de sujeitos que se consideram os maiores e melhores sujeitos da sociedade, com saudosismo aos “heróis” da ditadura, ao regime militar e contra os direitos dos trabalhadores e contra os benefícios sociais implementados nos últimos 15 anos que atende mais de 50 milhões de pessoas. Alguns até criticam que as universidades públicas perderam a qualidade porque o governo aumentou as vagas e beneficiou alguns cidadãos com a lei de cotas. Parece contraditório, pois o ensino superior no país é público e é também privado e, este, aumentou consideravelmente desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996.

Afinal, temos que observar que tanto o setor público como o privado são responsáveis pela ensino superior no país e o Ministério da Educação até fechou muitas faculdades particulares por falta de qualidade e alguns cursos de universidades públicas. Contudo, é do conhecimento empírico e formal que a universidade pública tem melhor qualidade pois além de ter o ensino, trabalha com a pesquisa e a extensão enquanto o ensino superior privado é quase que exclusivamente desenvolvido alheio a pesquisa, com raríssimas exceções. Para reforçar o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) demonstra tal constatação. Nesse sentido, é um olhar míope defender a tese que o ensino superior público perdeu qualidade.

Além disso, a extrema direita critica a implantação dos Conselhos Populares através do decreto presidencial, que tem o objetivo de aumentar a participação popular, mas que o Congresso Nacional, por pressão dos conservadores, deve derrubar. Ou seja, como cidadãos não querem ter mais direito de participação, pois a própria Constituição Federal não limita, nas deixa a critério do legislador e da sociedade civil a ampliação dos direitos de participação do povo.

Por derradeiro, acredito ser necessário que o povo brasileiro, ou seja, você caro leitor, não aceite a intolerância e nem o golpismo, defenda a democracia e o interesse público como o maior bem da nossa nação, que o poder esteja de fato nas mãos do povo, com maior participação popular e que as garantias constitucionais sejam implementadas na sociedade.



FRANCISCO DANIEL NUNES RICARTE, 33, servidor público federal, Biólogo pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, especialista em Educação Profissional de Jovens e Adultos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte e estudante de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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