Desde
os protestos de junho de 2013, que observo o comportamento da elite brasileira,
ou melhor, da classe média e classe média alta, além de tantos outros grupos,
sujeitos e personalidades da sociedade, que criticam o governo atual, com
intenção de mudança, de moralização, de renovação da política, ou seja, um
renascimento ideológico. E, entretanto, desconfiava e agora desconfio, mais ainda,
das reais intenções de uma parcela considerável que alardeia uma transformação
na política nacional, tendo em vista as recentes manifestações no país.
O
cenário das eleições de 2014 e, principalmente, o pós eleição, dada a vitória
apertada da presidenta Dilma Rousseff sobre o candidato Aécio Neves, reforçou,
portanto, a minha visão que a direita ressurgiu no cenário nacional, com muito
fervor. Esse renascimento da direita está com força e sede, acompanhado, ainda,
de uma imensurável intolerância, de uma moral capenga e de um nacionalismo de
ódio e não de amor pela pátria, pelos brasileiros, pelo povo, pela união, sem
distinção de cor, origem e condição social. É até parecido com a divisão de
classes deflagrada por Karl Max, o idealizador do comunismo.
Quando
aos protestos de junho do ano passado, os quais jovens e adultos foram as ruas com
importantes reivindicações, excetuando-se o vandalismo de poucos, diante do
cenário de descrédito da política e governos, alguns sujeitos e até mesmo a
imprensa, criticaram e classificaram os participantes de arruaceiros, vândalos
e até consideraram o movimento como ilegítimo, por não ter objetivos claros, ou
seja, ela intencionalmente direcionou o seu público alvo os pontos negativos e
esqueceram dos pontos positivos dos movimentos. Como se para protestar se
fizesse necessário um curso preparatório, com bom comportamento para agradar o
ego do outrem e não perturbar o sossego alheio e nem ordem pública. Naquele
momento, observei que muitas vezes a imprensa e alguns sujeitos enfatizaram
apenas os atos de vandalismo ao invés de aprofundar a discussão política e
compreender o movimento, o direito do povo protestar, como ato político e
necessário numa democracia em plena (re) construção.
Diante
desse cenário, considero que a maioria dos revoltados com os protestos de junho
são de fato, os maiores intolerantes desta pós eleição presidencial, pelo
perfil do público acompanhado nas redes sociais e na mídia, até mesmo na nossa
cidade, na nossa rua e ambiente de trabalho e, além disso, no próprio Congresso
Nacional na atualidade e mesmo naquela época, visto que alguns parlamentares criticaram
os atos reivindicatórios de 2013, com palavras de defesa da integridade moral
do parlamento, que não se podia ceder, nem se amedrontar com o povo nas ruas.
Nesse
sentido, os atos de protestos pós eleição são totalmente, na sua essência e
intenção, diferentes dos protestos de junho de 2013, pois enquanto estes
tiverem os jovens e adultos nas ruas com objetivos diversos, mas dignos, os
protestos com pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff são de cunho
ideologicamente desrespeitoso a democracia, digo até pior que os atos de
vandalismo, pois os revoltados da extrema direita querem uma ditadura em
substituição a um governo eleito pelo povo, querem, de fato, a todo custo e por
meio do poder derrubar um governo democrático, reeleito pela maioria dos
eleitores do país e com o direito de governar para todos e não para satisfazer
uma elite historicamente agraciada com a coisa pública, com as benesses do
Estado patriarcal.
Afinal,
somos todos brasileiros ou não? Parece, infelizmente, que não, pois alguns
defendem a divisão do país em Norte e Sul, separando o norte e nordeste do
restante do país, pois, na visão deles, enquanto o sudeste produz o nordeste
recebe o bolsa família. Um discurso de apartheid, de ódio e intolerância, para
com as maiores vítimas de todos os tempos na terrae brasilis, os pobres e desfavorecidos pelas condições
impostas desde o Brasil colônia. Não tivemos aqui uma colônia de
desenvolvimento como aconteceu nos Estados Unidos da América, mas de
exploração, de usurpação dos bens e da riqueza e desde aquela época o povo
mantém no poder e nas benesses do Estado uma elite, que começou com o pau
brasil, depois o ouro, passou pelo café, pelos canaviais, pelos engenhos dos
senhores e coronéis do nordeste brasileiro. Então, temos uma elite, que
continua a votar nos candidatos tradicionais, como também o povo na sua maioria
votou nesta eleição de 2014, para perpetuar o poder de uma parcela
historicamente apregoada a máquina pública, visto que teremos a partir de 2015
o Congresso Nacional mais tradicional desde o golpe militar de 1964.
As
coincidências com os tempos de chumbo são muitas, na minha opinião. Da mesma
forma que em 1964 a elite e classe média foram as ruas contra atos de
corrupção, com a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, promovida com
apoio da igreja católica, dos empresários e até com inventivo financeiro dos
Estados Unidos. O discurso intolerante e moralizante de 1964 é semelhante aos
protestos contra o governo federal atual, ou seja, contra a corrupção, mas,
vejo na sua essência a deflagração da mesma moral “capenga” daquela época de
sangue e chumbo, pois durante o governo militar a corrupção não só aumentou,
mas foi encoberta pela falta de liberdade de expressão da imprensa e do povo.
Por
outro lado, não fecho os olhos diante da corrupção no atual governo, ou melhor,
na política nacional, mas não podemos incriminar sem os fatos esclarecidos, até
porque a investigação reflete em muitas siglas partidárias e políticos. Que a
justiça, de fato, faça justiça, e não arremedo e que o Congresso Nacional não
nos ofereça mais uma pizza nas comissões parlamentares de investigação.
Ademais
não podemos aceitar o crescimento de uma intolerância e discurso de classe que
marginaliza uma parcela da população e vangloria outra. Acompanhamos na
imprensa e redes sociais um discurso auto declaratório de sujeitos que se
consideram os maiores e melhores sujeitos da sociedade, com saudosismo aos
“heróis” da ditadura, ao regime militar e contra os direitos dos trabalhadores
e contra os benefícios sociais implementados nos últimos 15 anos que atende
mais de 50 milhões de pessoas. Alguns até criticam que as universidades
públicas perderam a qualidade porque o governo aumentou as vagas e beneficiou
alguns cidadãos com a lei de cotas. Parece contraditório, pois o ensino
superior no país é público e é também privado e, este, aumentou consideravelmente
desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996.
Afinal,
temos que observar que tanto o setor público como o privado são responsáveis
pela ensino superior no país e o Ministério da Educação até fechou muitas
faculdades particulares por falta de qualidade e alguns cursos de universidades
públicas. Contudo, é do conhecimento empírico e formal que a universidade
pública tem melhor qualidade pois além de ter o ensino, trabalha com a pesquisa
e a extensão enquanto o ensino superior privado é quase que exclusivamente
desenvolvido alheio a pesquisa, com raríssimas exceções. Para reforçar o
Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) demonstra tal constatação. Nesse
sentido, é um olhar míope defender a tese que o ensino superior público perdeu
qualidade.
Além
disso, a extrema direita critica a implantação dos Conselhos Populares através
do decreto presidencial, que tem o objetivo de aumentar a participação popular,
mas que o Congresso Nacional, por pressão dos conservadores, deve derrubar. Ou
seja, como cidadãos não querem ter mais direito de participação, pois a própria
Constituição Federal não limita, nas deixa a critério do legislador e da
sociedade civil a ampliação dos direitos de participação do povo.
Por
derradeiro, acredito ser necessário que o povo brasileiro, ou seja, você caro
leitor, não aceite a intolerância e nem o golpismo, defenda a democracia e o
interesse público como o maior bem da nossa nação, que o poder esteja de fato
nas mãos do povo, com maior participação popular e que as garantias
constitucionais sejam implementadas na sociedade.
FRANCISCO DANIEL NUNES
RICARTE, 33, servidor público federal, Biólogo pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, especialista em Educação
Profissional de Jovens e Adultos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte e estudante de Direito pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
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